quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Francisco Costa - O homem e a máquina

"Com alguma soturnidade uns amigos meus diziam-se preocupados quando viam máquinas a substituir os humanos fosse no trabalho, no lazer ou até nos afectos. Um deles responsabilizou as máquinas pelo grande número de desempregados no planeta e acabou por apontar um novo mecanismo em teste num hipermercado como a causa futura do fim dos empregos como caixa. Para ele tal mecanismo só vinha a acentuar o problema das pessoas que não conseguem ocupação, dinheiro, casa e família.

Confesso que fiquei surpreendido com esta reacção sobretudo quando qualquer um deles é entusiasta das novas tecnologias e procura ser detentor das últimas novidades que a tecnologia é capaz de oferecer. Então notei que colocavam em patamares diferentes a realidade da sua comodidade e conforto enquanto consumidores ou utilizadores de bens com a grande evolução que a humanidade sofreu em termos tecnológicos e que lhe permitiu, à humanidade, sofrer bem menos para produzir bem mais, passe-se a redundância. Ou seja, para eles passava despercebido o grande ganho da substituição de homens por máquinas em tarefas cansativas, repetitivas ou até perigosas. Assim a máquina era vista como ameaça e não como oportunidade.

Desembocámos numa estranha contabilidade de ganhos e de perdas com ambos a insistirem na maior perda, a das pessoas e dos empregos, tal como começámos. Parecia haver uma evidência que por cada máquina uma centena ou mais de pessoas ficava sem o seu trabalho. Imaginei então as primeiras linhas de montagem industriais, com centenas de pessoas alinhadas, uma vida inteira a repetir os mesmos movimentos para produzir as mesmas peças, que se haveriam de juntar para resultar num qualquer equipamento a que muito poucos acederiam. Pessoas com capacidades indiferenciadas, logo mal pagas e, sobretudo, com poucas condições de trabalho. E é esse passado que demonstra o quão positivo foi este progresso. É certo que este progresso terá causado as suas vítimas, obrigado a adaptações difíceis, a que muitos não conseguiram dar resposta. Terá provocado falências, feito sucumbir cidades inteiras, enfim, causado desespero em muitos lares, mais para mais quando a mesma unidade produtora dava trabalho a famílias inteiras. Um professor meu ironizava com a hipótese de ser possível salvaguardar um posto de trabalho indefinidamente dizendo que assim sendo ainda teríamos trabalhos tão relevantes como o de lascador de pedra. Ironias à parte e em última análise, o resultado deste processo de evolução, terá criado melhores empregos, mais especializados e bem pagos, menos monótonos e mais limpos, enfim, sofisticados. Enfim terão desaparecido milhões de postos de trabalho mas terão aparecido milhões de novas oportunidades criadas com novas necessidades e novas exigências de uma sociedade mais disponível e com mais meios. E mesmo observando a questão central da sustentabilidade do nosso modo de vida, o respeito pela natureza e a necessidade de refrearmos o nosso ímpeto consumista traz objectivamente novas oportunidades e a necessidade de novos serviços. Contudo no planeta ainda pode ser realidade o que para nós é memória da revolução industrial mas isso só demonstra que o progresso tecnológico não é igual para todos e isso sim, é algo com o qual devemos ficar preocupados. Não com o fim dos lascadores de pedra."


1 comentário:

Anónimo disse...

É muito importante abordarem os pontos negativos da máquina para o Homem, pois de facto, não existem apenas aspectos positivos. Para mim, de facto a máquina diminuiu muito a mão de obra humana muito embora facilite bastante a execução de muitas tarefas.